domingo, 24 de agosto de 2008

A batalha e a trajetória dos movimentos estudantis

Núbia Passos
"Se o presente é de luta, o futuro nos pertence" é com a célebre frase de Che Guevara, grande símbolo e referência da juventude, que Vladimir Meira, vice-presidente regional da UNE na Bahia e diretor de Universidades Públicas da UEB (União dos Estudantes da Bahia) define a importância e a dimensão dos movimentos estudantis nos rumos da história do Brasil.

Muitas batalhas marcaram a trajetória dos movimentos, em 1964, com o Golpe Militar quando estudantes brasileiros viveram momentos de dor e esperança. Enquanto isso, na França, jovens das Universidades de Nanterre e Sorbonne iniciaram sucessivos protestos, que movimentaram todo continente europeu e as Américas. As mudanças ocorridas na sociedade faziam com que estudantes reivindicassem por menos rigidez na educação, eles julgavam e contestavam valores que acreditavam estar em divergência com os avanços da época. Esse período de revoltas ficou conhecido como “Maio de 68”.

Novas lutas: Com a mudança e os avanços da sociedade, as “bandeiras” da juventude brasileira mudaram um pouco de foco, não é mais só vontade de derrotar a ditadura ou derrubar o presidente que a mobiliza, mas problemas como o racismo, inclusão de políticas públicas de reparação aos afrodescendentes, a homofobia e destruição do meio-ambiente também fazem parte das preocupações dos jovens hoje. “A Bienal da UNE é um exemplo disso, pois é o maior evento da juventude da América Latina e traz a luta contra o machismo, homofobia e contra todas as formas de preconceito. Essas são algumas lutas específicas que diversificam os focos de mobilização dos estudantes brasileiros”, afirma Vladimir. Na última Jornada de Lutas em Defesa da Educação, promovida pela UNE, que aconteceu em março deste ano, aproximadamente 100 mil estudantes de todo país foram as ruas reivindicar maiores investimentos na educação, assistência estudantil e qualidade no ensino. “Só aqui em Salvador, fomos para as ruas com mais 8 mil estudantes, neste episódio”, completa. Um dos últimos acontecimentos que marcou os movimentos estudantis de Salvador foi a “Revolta do Buzú”, em 2003, quando os estudantes pararam a cidade soteropolitana contra o aumento da tarifa e o aperfeiçoamento da meia-passagem.

O vice-presidente regional da UNE acredita que com o neoliberalismo imposto ao país trouxe sérias conseqüências, desde o individualismo mais exacerbado ao pragmatismo, que tomou conta da juventude, principalmente da universitária. “Aquele sentimento de entrar na faculdade apenas para estar mais ‘apto’ a entrar no mercado de trabalho ganha muito mais força a partir de então. Isso criou certa dispersão nas mobilizações, de fato. E a maioria dos estudantes hoje, quando não são "provocados", preferem seguir um caminho ‘reto’, individual, de buscar o mais rápido possível seu diploma para entrar o mais rápido possível no mercado de trabalho. Chego a dizer que lutamos contra esse tipo de sentimento, mesmo sabendo que, na maioria das vezes, comporta-se dessa forma por necessidade”, afirma.

Vladimir Meira, ínsita os estudantes baianos a procurarem conhecer as representações estudantis, para saberem quais são suas lutas, a fim de que se juntem, por identificação ideológica, ou então para tentarem mudar a forma como elas estão sendo organizadas, de modo que assim elas possam representar seus reais anseios e necessidades. “O movimento estudantil (a UNE) é e sempre foi muito amplo, diverso; um ambiente saudável, com muitas disputas também, mas com muita democracia, que permite a todos expressarem e defenderem aquilo que acreditam. E essa disputa interna é importante para que a entidade sempre se renove”, afirma. “Diria também que o estudante universitário deve compreender o ambiente que ele se encontra. Ainda é parcela pequena da sociedade que tem acesso à universidade, principalmente a pública. E é preciso compreender que a universidade precisa estar conectada com os interesses da sociedade, precisa refletir os anseios da população, visando soluções aos problemas enfrentados pelo país. E o movimento estudantil é uma importante escola nesse sentido, ele coloca mais responsabilidade no estudante para com a educação e à universidade. Ele valoriza aquele espaço e tudo que ele deve absorver dali em termos de aprendizado. E ele cultiva e passa a ter contato com outros valores também, valores que vão muito além do individualismo e pragmatismo que nosso sistema "prega"; busca saídas coletivas para os problemas e passar a agir sempre em coletividade. Então diria isso, pois da universidade saem os futuros formadores de opinião da sociedade, e é preciso sempre se referenciar de forma positiva perante as pessoas”, conclui.

Hoje em Salvador existem alguns movimentos que tem legitimidade para estar atuando em defesa dos direitos, e também deveres dos estudantes, como a União dos Estudantes da Bahia (UEB), que atua em todo estado, a Associação Baiana Estudantil Secundarista (ABES), que é a representação estadual dos estudantes secundaristas que tem forte atuação aqui na capital, e as entidades dos cursos, D.A.`s e C.A.`s, das faculdades, DCE`s e alguns Grêmios das escolas secundaristas.


* Matéria publicada no Caderno do dia do estudante do jornal Folha Dirigida

2 comentários:

joaomilton disse...

Parabéns, matéria elucidativa para os estudantes que não conhecema história.

Anônimo disse...

Sim, provavelmente por isso e